A Audi revelou na última quarta-feira (16) o novo estilo da sua logomarca, que agora saca de um visual preto e branco e dispensa o tradicional cromado. Marcas italianas – Alfa Romeo e Fiat, principalmente – trocaram de símbolo com alguma frequência, mas a mudança de identidade é rara entre as alemãs.
“Os anéis bidimensionais surgiram na Audi em 2016 como consequência da digitalização, essencialmente para representar os anéis de uma maneira alinhada a esse universo. Formas tridimensionais em bases bidimensionais não atenderiam aos nossos critérios técnicos e estéticos. Então, nós optamos por um visual 3D”, justifica Frederik Kalisch, estrategista de marca da empresa.
Designer da Audi, André Georgi complementa: “nossa visão é mover a identidade corporativa da área digital e padronizar a identificação do veículo em todos os modelos. Nós queremos que as quatro argolas tenham a mesma aparência em todos os lugares no futuro: seja na revista, no smartphone no outdoor ou (dentro e fora) no carro”.
É um bom motivo para revisitar a origem das quatro argolas, compostas pelas marcas Audi, DKW, Horch e Wanderer.
Tudo começou com August Horch, um engenheiro que havia trabalhado com Karl Benz antes de montar sua própria companhia, em 1899. As inovações e a reputação de qualidade fizeram da Horch uma das grandes naquele início do século 20. Uma boa publicidade gratuita vinha das corridas disputadas com fundador da empresa ao volante de seus carros.
Divergências entre os membros da diretoria e Horch expulsaram o fundador da própria companhia, em julho de 1909. Os novos donos então registraram nada menos do que 26 nomes – como Autohorch, A. Horch, Original Horch Car, entre outros – para impedir August de usar seu sobrenome, já famoso, em outra empresa automobilística. A saída foi traduzir Horch, “ouvir” em alemão, para o latim, o que resultou em “Audi”.
Enquanto a Horch seguia fabricando modelos destinados à elite alemã, a Audi Automobil-Werke (instalada em Zwickau e que depois virou Audiwerke AG) usava da boa reputação de August para também fabricar carros robustos e de categoria superior – embora não tão luxuosos quanto os da Horch.
Fundada em 15 de fevereiro de 1885, em Chemnitz , a oficina de bicicletas de Johann Winklhofer e Richard Jaenicke partiu dois anos depois para a construção dos próprios modelos, vendidos sob a marca Wanderer. Tempos depois evoluíram para os automóveis, cuja produção em série teve início em março de 1913 com o Type W 3, popularmente chamado de “Puppchen”.
No DNA da DKW também há rastros de uma, digamos, diversificação industrial. O dinamarquês radicado na Alemanha Jörgen Skafte Rasmussen, fundador da empresa que começou em Chemnitz como Rasmussen & Ernst, chegou a ter um moinho têxtil.
Mas foi somente em 1916 que Rasmussen começou experimentos com veículos a vapor, inclusive financiados pelo Ministério da Guerra alemão. É quando surge a marca DKW, abreviatura para Dampfkraftwagen: “dampf” é vapor em alemão, enquanto “kraftwagen” significa veículo a motor. Contudo, limitações técnicas levaram ao abandono do projeto depois da Primeira Guerra Mundial.
Quando, em 1919, Rasmussen encomenda pequenos motores dois tempos de 25 cc, DKW vira “Des Knaben Wunsch”, algo como “o desejo do garoto”. Paralelamente, um motor maior, de 118 cc e 1 cv, é desenvolvido para equipar bicicletas. DKW agora significa “Das kleine Wunder”, ou “o pequeno milagre”.
A partir daí Rasmussen define o futuro da empresa: fabricar motocicletas e motores. Em 1928, a DKW já era uma das maiores produtoras mundiais de motos. No mesmo ano, lançou seu primeiro carro, P 15.
Para conterem o avanço dos modelos americanos e confeccionarem linhas de montagem mais eficazes, as fabricantes foram pressionadas por órgãos como o State Bank of Saxonya se juntar . Em 29 de junho de 1932, enfim, se fundiram para formar a Auto Union AG, o segundo maior grupo automotivo da Alemanha.
Cada uma das quatro marcas do grupo abraça um segmento de mercado: a DKW fica com motocicletas e carros pequenos; a Wanderer, um degrau acima, com modelos de médio porte; a Audi foca nos médios de luxo; e a Horch se mantém como referência em grandes veículos luxuosos.
E assim foi até a Segunda Guerra Mundial devastar a Alemanha.
A Auto Union então praticamente morreu após o desmantelamento das plantas de Chemnitz, Zwickau e Zschopau. Um plano de recuperação acabou levando a companhia para Ingolstadt, onde começaria uma nova vida.
Novamente reorganizada, a Auto Union foi comprada em 1958 pela Daimler-Benz, que em 1964 vendeu a empresa das quatro argolas à Volkswagen. Cinco anos mais tarde, a NSU também seria adquirida pela fabricante do Fusca. Era formada então a Audi NSU Auto Union AG, que virou…Audi.
Quanto às demais marcas, a Horch teve o último modelo fabricado em 1940, um ano antes do derradeiro Wanderer. Os DKW foram até 1968 com o off-road Munga.
Fonte: Forbes Brasil